sexta-feira, 3 de junho de 2011

Crítica: Filhos do Paraíso


"Bacheha-Ye aseman" (Filhos do Paraíso), é um filme dirigido pelo Majid Majidi e lançado no ano de 1997 no Irã, foi candidato ao Oscar 1999 de Melhor Filme Estrangeiro.
Em 88 minutos de filme, é retrato a história de Ali (Amir Farrokh Hashemian), que é um menino de 9 anos proveniente de uma família simples e que vive com os pais e uma irmã Zahra (Bahare Seddiqi).
Um dia ele perde o único par de sapatos da irmã e, tentando evitar a bronca dos pais, passa a dividir seu único par de tênis com ela, ambos passam a revezar o tênis.  Enquanto isso Ali começa a treinar para obter uma boa colocação em uma corrida que terá como prêmio uma quantia dada para comprar um novo par de sapatos.
De uma forma delicada o diretor Majid Majidi demonstra a precariedade que a maioria das pessoas do Irã se encontram, mostra bem sua cultura, as dificuldades enfrentadas pela classe trabalhadora dentre outras questões.

Majid Majidi em uma entrevista a um jornalista expõe as dificuldades que os cineastas tem para produzir filmes no Irã.
Desde que Ahmadinejad chegou ao poder em 2005 o cineasta não filmou mais. Para se produzir um filme no Irã há muitas questões envolvidas. Sem permissão do governo, você não filme, o governo detém um monopólio sobre os estoques de películas e equipamentos, logo todo cineasta tem que ir até eles para alugar esse equipamentos. O cinema só exibe o que o governo deixa, e os sete canais de TV são estatais.
O governante foi eleito duas vezes - uma vez em 2005 e depois em 2009 sob suspeita de fraude - concentrou tudo em suas mãos, principalmente os meios de comunicação conforme sua ideologia, exerce um poder coercitivo sob os indivíduos, reprimindo totalmente quem se opõe a sua maneira de fazer política e seus métodos utilizados.



Mesmo sem a liberdade de fazer filmes, principalmente se possuir caráter político, o filme Filhos do Paraíso retrata um Irã que não se mostra com muita igualdade entre os indivíduos.
A pobreza em que a família de Ali se encontra, a grande dificuldade em pagar o aluguel, comida escassa na família, precariedade na questão da saúde como é retratado no fato da mãe de Ali estar doente e não ter alternativas de buscar auxílio em hospitais e a lutando diariamente para manter suas necessidades básicas atendidas.
Apesar das dificuldades sofrida pela família, o filme mostra um lar aonde existe amor e apoio de todas as partes. Os filhos que são extremamente novos mas já possuem consciência que a situação está difícil e não querem preocupar os pais com a questão da perda do par de sapatos de Zahra, a solidariedade entre os vizinhos quando a mãe de Ali cozinha para o casal de velhinhos que mora ao lado.
O que marca nesse filme é a questão da honestidade. Quando o pai do garoto está cortando em cubos o açuçar que não o pertence, a filha está preparando chá para o pai, nota a falta de açucar na casa e acaba dizendo:
- Tem bastante açucar ai.
O pai diz "Mais esse não é nosso!"
Em outra cena podemos observar também a questão da honestidade, quando a garota Zahra deixa cair a caneta que ganhou do irmão, a colega de escola pega no chão e no dia seguinte a devolve - detalhe que a menina que encontra a caneta também é de família carente e acaba gostando da caneta.

Como os protagonistas desta sua obra, o diretor cresceu vivendo com seus pais e quatro irmãos em um único quarto. Segundo ele explicou:
"Em toda sociedade, existe sempre o problema de 'ter' ou 'não ter', o que cria um monte de conflitos. No momento, esse é o problema mais significativo de nossa sociedade. Nós estamos oscilando entre problemas econômicos e falta de justiça social. É missão da arte continuar a atacar esses problemas, enquanto eles permanecerem."Em "Filhos do Paraíso", adultos e crianças, ainda que pobres, não abdicam de sua dignidade.
A honestidade em meio a pobreza é marcante no filme.

Filhos do Paraíso é um filme extremamente interessante que retrata questões que envolvem todos nós e mostra uma cultura totalmente diferente que estamos acostumados, mas aonde a dignidade e o caráter de alguns mostra a diferente em um sociedade tão suja.

Para mim, é um dos melhores filmes iranianos!

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